Brincando de verborragia com as minhas particularidades, com os eus de mim e com os mins nos outros. Alguns textos novos, escritos mal acabados, garatujas que querem ser criadas e rabiscos que já nem são.
–
Você me pegou pelas mãos e disse ‘vem pro meu mundo’ de uma forma tão corajosa que não pude recusar. E era um lugar tão bonito, Benzinho. Passeamos despreocupados, sorrimos, dançamos, acabamos com a sede com gotas de chuva, já não tínhamos fome graças à bolinhos de céu e nos perdemos naquele infinito de muitos caminhos em que uma escolha não anulava uma outra possibilidade. E eu me senti por inteira num canto seu.
E me foi tão difícil convidá-lo para entrar e permitir que você fizesse parte do desbravar de terras áridas e apavoradas pela idéia de um novo abandono, sabe? Mas você foi forte e lutou pelo seu direito óbvio de pertencer a um mundo meu. Pouco manso, é bem verdade, mas inteiramente meu.
Quando dei por mim, você venceu pelo cansaço e, fazendo jus ao usucapião por justa causa, já tinha feito morada no último pedaço de terra fértil daquele sertão. E trouxe a alma do luar. Esboçou no rosto o semblante de quem tem paz. Pincelou estrelas e plantou flores de todas as cores e de pétalas suaves. Você disse que ali era bonito, também. E que só precisava de alguns cuidados. Seria como restaurar uma casa esquecida pelo tempo em que você acreditava piamente no valor e na beleza. E que chamaria de lar.
Consertou azulejos quebrados, lixou tintas descascadas, trocou telhas estilhaçadas, demoliu o que restava de ruínas, limpou o mofo deixado pelas infiltrações e reformou cada um dos cômodos. Fez tudo isso com o afinco dos que querem estar ali e com o suor de quem opta por insistir diante da desesperaça dos obstáculos. A cada construir, um pouco mais do crer. A cada erguer, um pouco mais do amor. E agora, Benzinho, me sou completa. Obrigada.
Hoje somos.
Somos mundos, somos promessas cumpridas, somos encontros, somos lugares, somos nós, somos lares.